Começo a escrever estas palavras sob o efeito de uma declaração que ouvi, às quatro horas da manhã, de um professor de Física, em entrevista concedida a uma emissora de rádio: “O Universo não precisa de Deus; o homem é que precisa dEle.” Com essa afirmação, a entrevista foi encerrada e meu repouso também, porque gastei as duas horas seguintes refletindo sobre o assunto.
Se o Universo não precisasse de um criador e mantenedor, Deus seria mera invenção da mente humana. Assim, a Bíblia não teria sentido, matar ou amar seriam coisas equivalentes; portanto, existiria apenas “uma realidade nua e crua, a realidade sem valor da existência” (Sartre). Se Deus não existisse, as conclusões lógicas seriam essas, com toda a sua malha de implicações, algumas das quais são definidas da seguinte maneira por Harold Kushner: “Um mundo sem Deus seria plano e monocromático, sem cor, textura e calor humano, no qual todos os dias seriam iguais. O casamento seria apenas uma questão biológica, não de amor e fidelidade. O envelhecimento seria visto como uma época de grande fraqueza e dependência, e não de sabedoria e experiência. Num mundo assim, procuraríamos desesperadamente por diversão, qualquer tipo de distração para amenizar o grande vazio de nossa vida, porque nunca teríamos conhecido a mágica que torna alguns dias e alguns momentos especiais para nós” (Quem Precisa de Deus? [Editora Arx: São Paulo: SP, 2007], p. 189).
Não posso provar que Deus existe, mas não consigo admitir a existência do Universo e da Bíblia sem uma intervenção sobrenatural.
As Escrituras fazem duas afirmações intrigantes para os céticos, as quais são fundamentais para os cristãos: “No princípio, criou Deus os céus e a Terra” (Gn 1:1); “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (Sl 14:1). O Criador não revela como Ele criou o Universo, pois essa prerrogativa é exclusivamente dEle; no entanto, algumas criaturas deste pequeno planeta criaram teorias sobre um processo de evolução que nunca viram nem podem comprovar.
Antes de cursar Teologia, eu me sentia frustrado quando os evolucionistas depreciavam a Bíblia, especialmente o relato da criação. Quando afirmavam que o Livro Sagrado não era digno de crédito, eu me perguntava: “Por que agem desse modo?” Com o passar dos anos, não mais me senti frustrado. Por quê? Porque dois fatores, entre outros, consolidaram minha fé e minhas convicções no relato bíblico: o cumprimento das profecias (especialmente as de Daniel) e o testemunho da arqueologia. Toda pessoa que tem conhecimento desses elementos fica deslumbrada com a veracidade das Escrituras. Desde que tive acesso a essas informações, não mais me abalo quando um cético deprecia a Bíblia, porque tenho certeza de que esse Livro é digno de confiança, é de origem divina. Não me abalo quando leio: “Formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida” (Gn 2:7). O fato de Ele ser onipotente O credencia para usar esse e outros métodos. Por isso, é infundada a ideia defendida por alguns de que Deus criou tudo por meio de processos evolutivos, como se Ele dependesse de longos períodos para fazer as coisas. É falta de reverência colocar as mãos divinas em luvas humanas! Mas a posição mais acintosa é varrer Deus da vida e do Universo e, depois, tentar explicar a origem de tudo por meio de processos aleatórios.
Felizmente, existem cientistas que não navegam por essas águas. Um deles é John Leslie. Para ele, a sintonia fina que existe no Universo é “evidência genuína” de que “Deus é real” (Universes, obra citada pelo editor Marcos De Benedicto, na edição de maio, p. 14-16). Para mim, Deus é real. Não aceito a afirmação de que Ele foi concebido pela imaginação de pessoas fracas, incapazes de lidar com a solidão. Antigo conceito do socialismo ateu dizia: “Sociedades primitivas requerem deuses; nós, porém, superamos a necessidade de Deus.”
Jamais aceitarei esse tipo de independência, ou seja, abrir mão dAquele que criou e mantém todas as coisas (Hb 1:3). “Um mundo sem Deus seria um mundo em que a gravidade nos puxaria para baixo e não haveria uma força oposta para nos erguer outra vez” (Kushner). Abraham Joshua Heschel escreveu: “O mundo pode possuir nossas mãos, mas nossas almas pertencem a Alguém mais.” Sinto-me seguro quando Deus me diz: “Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito” (Is 57:15).
Você e eu não somos órfãos neste grãozinho de areia inserido num subúrbio da Via Láctea.