/ DA COVA DOS LEÕES / Publicado por Ruben Holdorf - 13/12/2010 | 23:00h
Wikileaks, um elenco de besteiras cujo conteúdo a imprensa insiste em convocar os leitores a aceitarem sua essência documental como de elevadíssima importância na diplomacia. Deu-se e ainda se abre muito espaço na mídia para o patético Julian Assange e sua malta de criminosos virtuais. O maior problema desse imbróglio não se refere à enunciação das correspondências diplomáticas ou às opiniões vazias e toscas de celebridades da política, mas à reação em escala planetária de governantes ao rol de asneiras, injúrias e difamações, expressões demolidoras da reputação alheia. Dançou Assange, acusado pela polícia sueca como suspeito de agressão sexual. Pior para a liberdade de expressão, cuja credibilidade mais uma vez se vê abalada pelas grutas do sensacionalismo nas redações da mídia irresponsável.
Esse caso traz à tona algumas questões para se tornarem objetos de reflexão. Qual o direito dos governantes, dos ditos homens públicos, esconderem informações de quem os elegeu e os sustenta com impostos? Que direito tem o poder público de violar contas bancárias de seus cidadãos, vender cadastros com informações confidenciais de seus eleitores e espoliar sem aviso prévio as instituições particulares? Quão irresponsáveis são aqueles que detêm a informação e não conhecem as mínimas regras de ética e de proteção às fontes? As aparentes confidências trocadas entre esses indivíduos não revelavam qualquer informação sigilosa do ponto de vista da segurança e interesses nacionais das nações envolvidas, mas sim deboches, agressões escritas, opiniões depreciativas a respeito do Outro expostos em uma tonalidade ético-verbal nada recomendável.
Maior mal e mais letal tem sido o contra-ataque dos poderes globais ao bloquearem o site. A retaliação não partiu da China, de Cuba, tampouco da Coleia do Norte, mas justamente de quem deveria proteger o direito à livre informação. As nações democráticas do Ocidente movimentaram uma cadeia de dispositivos a fim de destruir o inimigo-comum. Ao procederem dessa maneira avassaladora, rasgaram suas constituições e retrocederam mais um passo em direção ao abismo medieval da repressão, do fim das liberdades humanas, da intolerância e do estabelecimento de um poder supranacional totalitário.
Logo depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, a mídia mundial foi condicionada a repetir indefinidamente a expressão "o maior atentado terrorista da história", esquecendo-se das destruições de Hiroxima, Nagasáqui, Dresden, Londres, Berlim, nas quais a maior parte das vítimas era formada por civis alienados pelos poderes totalitários vigentes. A Associated Press constatou que não havia "absolutamente nenhum avião" destruído no Pentágono. A CNN questionou com a pergunta "O que a versão oficial tenta ocultar de nós?", sugerindo se tratar de "uma operação interna". Por ousarem publicar outra versão, os chefes de redação Ron Gutting e Dan Guthrie, respectivamente do City Sun e Daily Courier, perderam seus empregos. O doutor Thierry Meyssan, redator-chefe da revista Maintenant, demonstrou em seus argumentos que a versão oficial do 11 de Setembro "não passa de uma montagem".
Parece que o mundo já se esqueceu, também, do genocídio em Ruanda, Burundi e Congo, onde mais de um milhão de pessoas foram assassinadas por regimes terroristas ligados a grupelhos étnicos preconceituosos. Outras lembranças resgatam as cenas do cerco a Saraievo, na Bósnia-Herzegóvina, e seus desdobramentos nos massacres promovidos pelos sérvios. Não dá para olvidar o desaparecimento de dois milhões de cambojanos, mortos a mando do khmer vermelho, nem a carnificina patrocinada por Vladimir Putin na Chechênia. Volvendo-se para o século 19, fica difícil negar a vergonhosa Guerra do Paraguai e a maior aniquilação de uma população masculina. Quem a incentivou? A tropilha de militares brasileiros comandada pelo duque de Caxias e o conde D'Eu. Infelizmente, tudo isso jaz no esquecimento. E o partido que tomou de assalto o Brasil ainda se arroga a recontar a história. Quanta insolência, quanta mentira!
Mais do que um visionário da história, o poeta alemão Heinrich Heine advertiu que "no lugar onde se queimam livros, no fim se queimam homens". No lugar onde se bloqueiam sites, no fim se assassinam seres humanos, seja em sua reputação, em sua história ou em sua liberdade. Alguém acendeu há quase uma década o tacho em fogo-baixo e colocou dentro dele a liberdade. O tempo passou e a geração atual continua alimentando o caldeirão antidemocrático. Wikileaks é um lixo. Qualquer um que se julgue indignado, ou prejudicado, pode protestar. Todavia, ninguém tem o direito de censurá-lo.
Ruben Holdorf